sábado, 22 de dezembro de 2007

Imperador do Morumbi

É com esse texto, de Roberto Vieira, que também foi publicado no Blog do Juca Kfouri que dou boas vindas ao novo camisa 10 do Morumbi, Adriano.



Memórias de Adriano

Entre os velhos livros do Mercado de las Luces em San Telmo, uma surpresa.

Folheando um exemplar sem capa, um pergaminho.

Páginas amareladas escritas com caneta.Minhas mãos tremem.

Livros não são impressos há setenta anos. Manuscritos são raros. Peças de museu.

Toda a literatura ocidental cabe na ponta do meu dedo.

No canto superior da folha, o título: Memórias de Adriano.

Mas o texto não pertence a Marguerite Yourcenar, embora mencione a figura de um Imperador.

O texto se refere ao futebol.

Futebol, nossa paixão no Brasil.

Futebol, odiado pelos argentinos.

Argentinos que não jogam futebol desde o início do século.

Embora eu não compreendesse a razão de tanta raiva, tanto ódio.

Até agora...

"...Estava escrito.

Ele viria do oriente para nos destruir.

Aquele que os inimigos chamam Imperador.

'No le tememos a nadie' era o nosso canto.

Então, tudo começou a dar errado.

A batalha vencida, nossos guerreiros se preparando para a pilhagem.

Eis que surge do nada um soldado em nossa retaguarda, cravando a espada no minuto final.

Perseu.

O efeito foi devastador. Debandamos. Como crianças indefesas. Dizimados pelas tropas reservas do exército invasor.

Medusa.

Austríacos frente ao Napoleão.

Pedimos revanche na Guerra das Confederações. Mas não houve Waterloo. Pior.

A derrota foi muito pior. Voltamos para casa humilhados. Durante muito tempo, falar sobre futebol no Prata foi proibido.

Mas o que a força das armas não conseguiu, as noites e a sedução puderam realizar. A vitória embriaga, entontece. Poucos possuem a mente faminta de Alexandre.

A maioria sucumbe ao elogio fácil. Ao beijo de Dalila.

E assim o foi.

Em pouco tempo, o Imperador quedou frágil. Nem sombra do seu passado. Arrastava-se pelas planícies, um fantasma de si mesmo.

E nós nos julgamos fortes.

Mesmo quando sua foto apareceu nos jornais com a camisa do São Paulo.

Não sabiamos. Mas estava escrito.

Brasil e Argentina rumaram novamente para conquistar o mundo. Roma e Cartago.Vencendo todos. Até aquela tarde fria no Soccer City em Johanesburgo.

O jogo estava 3 x 0 para nosotros. Faltavam 10 minutos para o final da vingança.

De repente, os nossos adversários jogaram uma cartada final.

Ante o sorriso irônico de Messi e Riquelme, entrou em campo o Imperador.

Perseu.

O resto faz parte da história.

No dia seguinte implodimos La Bombonera e o Monumental de Nuñes. Avellaneda.

Pois depois daquela final, eu e meus compatriotas decidimos nos dedicar ao Rugby. Ao Pólo. Aos chorizos. Ao culto a Gardel.

Futebol é coisa de quem não tem o que fazer..."

Que o SPFC te devolva a alegria e te coloque novamente na seleção. A nação tricolor está do teu lado.

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